Frio de queimar

Este artigo foi publicado no jornal Gazeta de Limeira na data: 28/07/2013- Publicar este artigo no blog é uma homenagem a grande amigo meu Pedro Ivo. 

Inspirado pelas notícias mais frias vindas do Brasil, vou falar um pouco sobre um tema recorrente: as baixas temperaturas. Mas vamos fazer isso de uma maneira um pouco diferente do habitual. Essa breve coluna tem por objetivo lançar uma visão mais científica, de fácil compreensão, sobre os fatos do nosso dia-a-dia. Então vamos esfriar um pouco as ideias nos próximos parágrafos.

Em primeiro lugar, devemos lembrar que desde o dia 21 de junho é inverno no hemisfério sul, portanto, nada mais natural que se preparar e aguardar pelas quedas na temperatura. O inverno é a época ideal para comidas quentes, frutas secas (amêndoas, nozes, castanhas), bem como itens mais calóricos como queijos, lombos, tender, peru... Lembrou do Natal? Provavelmente. E não é por acaso que todas essas delícias são degustadas em 25 de dezembro. Essa data está muito próxima do início do inverno no hemisfério norte (21 de dezembro). Ou seja, copiamos o cardápio na época errada!

É natural que o limeirense sinta frio nesses dias em que as temperaturas são medidas com apenas um único dígito. A temperatura média em nossa cidade no decorrer do ano é de 22 graus centígrados. A quarta-feira, 24 de julho, foi prevista como o dia mais frio deste ano em Limeira, com mínima de 6 graus centígrados. Entretanto, os registros históricos mostram que recentemente já passamos por dias mais gelados. Em 9 de julho de 2011, apenas dois anos atrás, registramos incríveis 0,1 graus centígrados!

Alguns dizem que o frio é psicológico. Mas, como físico, posso garantir que não é. Pelo menos não apenas psicológico, mas físico, biológico e fisiológico também! Gostaria de tratar de dois conceitos físicos simples a seguir.

O primeiro diz respeito a um tal de princípio zero da termodinâmica (o ramo da física que se dedica ao estudo das grandezas temperatura, pressão e volume, dentre outras, e suas relações). Grosso modo, o princípio zero afirma que se dois corpos têm temperaturas diferentes, haverá troca de calor entre eles, de modo que o mais quente cede, enquanto o mais frio, recebe. Deste modo, ambos tendem ao equilíbrio.

Eis a solução física para o seu problema com o frio. Tome um banho gelado, de preferência mais frio que a temperatura ambiente. Deste modo, segundo o princípio zero, após o banho você vai ganhar calor do meio-ambiente, que está mais quente que você! Fisicamente o conceito não possui nenhum problema. Porém, intuitivamente, você sabe que isso não vai dar certo. Somos mamíferos e temos um metabolismo que funciona no seu estado ótimo em torno de 36 graus centígrados. Então, nada de banho gelado no inverno!

Outro conceito interessante é o de sensação térmica. De fato, essa também é uma grandeza física que pode ser medida, apesar do nome um tanto qualitativo. Esse conceito diz que hoje e amanhã pode fazer a mesma temperatura, mas que você pode sentir muito mais frio num dia do que no outro. A sensação térmica é uma função da velocidade do vento. Outra vez, intuitivamente, você sabe disso, pois já deve ter passado por uma situação onde sentiu muito mais frio a partir do momento que começou a ventar de uma hora para a outra (sem mudança na temperatura, portanto).

Apenas um exemplo ilustrativo: se neste dia mais frio do ano, supondo uma temperatura de 9 graus centígrados, tivermos ventos fracos, em torno de 10km/h, a sensação térmica será de 8 graus. Já, se os ventos forem um pouco mais velozes, como 29km/h, a sensação térmica será, pasmem, de -1 grau centígrado! Portanto, caros leitores, agasalhem-se.

Para finalizar, os mais pessimistas poderiam dizer: “nada é tão ruim que não possa piorar”. E eu diria: “em termos de temperatura, você está enganado!” De fato, existe uma temperatura mínima, conhecida como zero absoluto (ou zero Kelvin), na qual até mesmo os átomos deixam de se movimentar. Na nossa escala habitual, essa temperatura equivale a aproximadamente -273,15 graus centígrados. Chega-se próximo a esse valor apenas em certas regiões do espaço sideral ou em experimentos muito complexos em laboratórios científicos. Portanto, pode ficar tranquilo, nos próximos invernos continuaremos, apenas, com esse frio de queimar!


Pedro Ivo de Oliveira Brasil
pedro_brasil87@boulder.swri.edu
Bacharel e Mestre em Física Aplicada, pela UNESP. Atualmente cursa doutorado em Engenharia e Tecnologia Espaciais no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), tendo desenvolvido parte de seu projeto (maio a outubro/2013) no Southwest Research Institute em Boulder-CO/EUA. Membro Junior da American Astronomical Society. Paralelamente participa do grupo amador de astronomia e astronáutica M104-“Los Sombreros” (grupom104.blogspot.com.br) e mantém o (desatualizado) blog des-encontrei.blogspot.com                                                                 
Fonte: Direto com o Autor: Pedro Ivo de Oliveira Brasil

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